segunda-feira, 30 de junho de 2008

Morava naquela casa por toda sua vida e, de vez em quando, parava para pensar no motivo da coisa. Lógico que sabia que a casa fora passada de geração em geração, mas nem sempre entendia o porquê. Seu pai e seus tios poderiam ter desistido do grande mausoléu ou reformá-lo e fazer da construção tradicional um prédio moderno, com acessórios atuais. Mas não. A sensação que tinha era de que a casa era como era desde sempre.
Volta e meia alguns amigos da escola lhe perguntavam qual era a sensação de morar num castelo. Mas ela não se sentia uma princesa.
Francesca era uma adolescente normal, mas sabia que o exterior da sua residência a diferenciava dos outros. Por muitas vezes quis ter uma casa igual a de todo mundo, morar num apartamento ou quem sabe numa choupana. Claro que esses desejos lhe sobrevinham pois essa não era a sua necessidade. Se precisasse morar numa choupana, daria um braço pelo conforto do mausoléu.
Sabia que seu pai fora criado na casa e, embora tivesse estudado fora do país, ali era o lugar dele. E ele ia e vinha diariamente da capital para o interior. E gostava daquilo.
Francesca queria sair dali e viver fora do país para aproveitar o mundo. Seus pais diziam que não era o momento. Deveria terminar a escola e só depois realizar seu sonho.
Ultimamente ela pensava nisso com mais frequência, pois sentia-se entediada com sua rotina. Gostava apenas dos momentos em que pegava a bicicleta e pedalava pelos vales da cidade até a cachoeira. Da cachoeira ela gostava. Aliás, ela amava aquele lugar. Ali sentia-se livre, fechava os olhos e sentia o gosto do infinito.
Um dia enquanto dava suas pedaladas até a cachoeira foi surpreendida ao chegar lá. Sentiu um ímpeto de fúria, afinal ali era o seu canto. Lá estava um grupo de jovens de sua idade se esbaldando nas águas geladas de sua cachoeira. Sua vontade foi gritar para que todos se retirassem dali, mas sabia que de fato o local não era dela e não podia impedir outras pessoas de desfrutarem das maravilhas do lugar.
Deixou sua bicicleta um pouco afastada, tirou seu tênis e molhou os pés nas águas geladas.
De súbito, seus olhos se cruzaram. Francesca nunca tinha visto olhos tão lindos. De um castanho profundo que parecia que lhe penetrava alma e desvendava seus segredos.
Sentindo-se invadida, resolveu sair depressa e voltar para a segurança de sua bicicleta.
Os olhos castanhos continuaram a segui-la.
Semanas depois pôde conhecer o dono dos olhos castanhos. E, inevitalmente, apaixonaram-se.
Tempos depois Francesca entendeu o amor de seu pai pela cidade, pelas suas raízes e pela casa.
Francesca e Lutero (o dono dos olhos castanhos profundos) casaram e foram viver na casa que aprenderam a amar.
Francesca e Lutero tomaram conta daquela csasa como se a tivessem construído tijolo por tijolo.
Ali foram felizes até o fim dos seus dias e ela nunca saiu de lá.
Francesca morreu aos 93 anos e Lutero algum tempo depois. Dizem que foi de saudades.
A casa continua no mesmo lugar, com suas histórias inacabadas. É lá que, ainda hoje, os filhos e netos de Francesca se reúnem para lembrar os pais, os avós e toda a geração que foi feliz ali.

2 comentários:

dri disse...

Nossa, amei o seu jeito legal e contemporâneo de escrever. imaginação ao máximo né?! depois da uma passadinha no meu
www.jaqueromuito.blogspot.com

beijos

Lidianne Andrade disse...

super legal o texto
amei o blog
vou virar fã e linkar!
abs