quinta-feira, 26 de junho de 2008

Isolda trabalhava na lanchonete havia algumas semanas. Detestava o trabalho, mas gostava das pessoas que iam e vinham num sem fim. Talvez por se encantar com as histórias dos frequentadores da lanchonete e esquecer do seus afazeres, tinha sua atenção chamada assiduamente pelo dono do estabelecimento, sr. João.
Sr. João era um homem forte, alto, apegado aos bens materias e desleixado, mas tinha bom olho pra perceber que muitos dos frequentadores da lanchonete gostavam do bate-papo com Isolda e por isso resolveu deixá-la ficar mais tempo por ali, mesmo percebendo que os outros funcionários a tratavam com desdém.
Isolda tinha um quê de felicidade que irradiava pelos olhos, pelo sorriso. Não era uma mulher bonita, mas fascinava a todos com seu jeito de ser. Ninguém sabia exatamente a idade dela. Poderia ter 18 anos, mas também poderia ter 30. Nenhum cliente, por mais sisudo ou emburrado que parecesse, resistia a um único bom-dia daquela menina-mulher. Passou, e ainda passava, por situações que fariam qualquer um dobrar e fugir. Mas não Isolda.
Isolda amava a vida, acordava e dormia com um sorriso nos lábios, cantarolava e quando alguém a aborrecia ela fazia uma prece.
Mas, como todo ser humano, Isolda tinha defeitos. Tinha medo de encarar a realidade e criava fantasias em que acreditava de verdade.
Por muitas vezes foi pega numa mentira ou outra. Ela não se importava, eram as fantasias que lhe permitiam viver. Preferia acreditar que vivia no País das Maravilhas a suportar os infortúnios que a vida lhe pregara. Tinha um irmão perdido para o mundo do crime, um pai alcóolotra e uma mãe amargurada.
Isolda sorria e vivia em seu mundo de fantasia para sobreviver.
Sonhava com o dia em que seria resgatada do mundo de aflições por um homem que pudesse lhe fazer feliz. Não sonhava com qualquer homem. Sonhava com um homem alto, bonito, sorridente, inteligente, com mãos gentis, que gostasse de música, e sóbrio. Não precisava ter dinheiro, mas tinha que ser sóbrio.
O sr. João, dono da lanchonete, foi deixando Isolda ficar mais um dia, mais outro e quando viu estava caído de encantos por aquela menina sorridente.
E pediu a Isolda em casamento.
O sr. João não era nem de perto o príncipe com o qual Isolda sonhara. Não era bonito, não era alto, sorria muito pouco e sua voz parecia a de um trovão. Mas era sóbrio. E Isolda aceitou casar-se com sr. João.
Tudo aconteceu muito rápido. Isolda queria livrar-se das agruras de sua vida de fantasia e ser feliz.
Não foi tão feliz como sonhou, mas viveu bem e teve filhos saudáveis.
Isolda parou de mentir, mas continuou a sonhar. Para seu marido, dedicava fidelidade e para seus filhos, contava lindas histórias sobre fadas e castelos.
Um dia, por volta dos seus 50 anos, Isolda despediu-se dos filhos, deixou um bilhete para João e fechou a porta pra nunca mais voltar.
Não se sabe o que aconteceu com ela. Talvez ela tenha virado estrela de televisão, descoberto um dom escondido, virado freira ou viajado para conhecer o mundo.
Sabe-se apenas que a casa do sr. João nunca mais foi a mesma sem as histórias e a cantoria de Isolda.

2 comentários:

Camila disse...

Foi uma linda história, me deixei envolver , q naun queria que terminasse já... Vc escreve mto mto bem! Parabéns...
Voltarei...
Bjss té mais

Une Petite Femme disse...

creio eu, que Isolda voltou para o mundo dela, onde poderia ser quem ela quisesse e não se importar com as expectativas dos outros. Isolda abriu a porta para sua própria felicidade.

bjs